domingo, 29 de junho de 2008

Para O Globo, vale tudo para atacar o governo. Até dizer que 20,7% é maioria

por Antônio Mello

Taí a imagem que reproduz a manchete da primeira página de O Globo (clique nela para ampliá-la) que não me deixa mentir. Para o jornalão carioca, 20,7% (ou seja, 20,7 em 100) é maioria.

Onde está o truque? É que eles somam aos 20,7% os 34,1% que, segundo pesquisa do Ibase, “sofrem com falta de comida em casa”. O que não quer dizer em absoluto que passem fome – como, aliás, fica claro na matéria do jornalão. Ou seja, o que há ali não é notícia, é distorção, manipulação.

É só o jornalismo de resultados de O Globo em ação. É como o futebol de resultados: joga-se feio, para-se a jogada com falta, utilizam-se os recursos necessários – ainda que desleais – para que se consiga o resultado desejado. No caso da mídia corporativa, criticar o Bolsa Família para atingir o governo Lula.

Na própria matéria isso fica claro. Destacada num box, há a declaração de uma beneficiada, Clotilde Alves do Nascimento, que tem dois filhos e marido desempregado: “Eu até sonho em comprar carne”. Mas aí O Globo vem com a crítica: Beneficiada no Piauí usa dinheiro para comprar geladeira, fogão e roupas.

Que horror, não? A mulher disse que antes cozinhava com carvão. Agora comprou um fogão.
- Que esbanjadora!
Comprou também uma geladeira.
- Perdulária.
E também cadernos, material escolar, roupas e sandálias.
- Uma consumista típica, já sonhando com Daslu, talvez.
Ao final, ela ainda confessa que “cede ao pedido dos filhos por biscoitos e sucos para a merenda”.
- Onde está a polícia que não prende essa mulher? Chamem o TRE!

Mas a crítica de O Globo, na linha de Kamel, é um engodo, conforme mostrei aqui, Kamel descobriu qual é o grande problema do Brasil hoje. Eles confundem Bolsa Família com Fome Zero e criticam o que o programa tem de mais generoso e antipopulista: a possibilidade de o beneficiado gerenciar o benefício, usar o dinheiro naquilo que julga importante para sua família. Ainda que esse “importante” lhes seja imposto de fora, via propaganda, incentivo ao consumismo, especialmente direcionado às crianças (lembre-se de que dona Clotilde afirma que “cede ao pedido dos filhos por biscoitos e sucos para a merenda”), como tem criticado o ministro Temporão, que quer proibir propaganda de fast-food, antes das 21h. Mas isso é assunto para outra postagem.

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Também para o Estadão, na hora de atacar o governo 20,7% é maioria

Seguindo a voz do dono (afinal, dizem que o Estadão já pertence às Organizações Globo), o Estadão consegue transformar uma minoria de 20,7% em maioria, exatamente como fez ontem O Globo, e denunciei aqui: Para O Globo, vale tudo para atacar o governo. Até dizer que 20,7% é maioria.

Só que o Estadão foi mais comedido e não botou a mentira no título nem na primeira página. O título do Estadão (reproduzido na imagem) fala em insegurança alimentar. Mas o “olho” distorce: Maioria dos assistidos pelo programa passa fome, diz pesquisa do Ibase.

É mentira. A pesquisa não diz isso. Muito pelo contrário. A pesquisa do Ibase diz que uma minoria de 20,7% afirma que ainda passa fome. Essa informação (20,7%) é omitida na matéria do próprio Estadão, de autoria de Roldão Arruda, de onde retiro o trecho a seguir:

Pesquisa recém-concluída sobre o Programa Bolsa-Família, realizada pelo Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), tem uma notícia boa e outra ruim para o governo. A boa é que o dinheiro distribuído pelo programa tem sido usado principalmente para melhorar a alimentação das famílias - exatamente como se desejava. Do total de 5 mil titulares do cartão pesquisados, 87% disseram que empregam o dinheiro em alimentos. "Aumentou a quantidade e a variedade dos alimentos consumidos", diz a pesquisadora Mariana Santarelli, do Ibase.

A notícia ruim é que mesmo com a injeção de recursos entre as famílias mais carentes, elas continuam ameaçadas pela insegurança alimentar. Nas conversas com os pesquisadores, 83% dos titulares revelaram se enquadrar num dos três níveis em que se classifica a insegurança: grave, moderada e leve. No primeiro, o cidadão passa fome; no segundo, tem de reduzir a quantidade de alimentos da família, para que não falte; e, no terceiro, ele tem medo de não conseguir nada para comer no futuro próximo.

Como se vê nos destaques em negrito, apenas na insegurança grave o cidadão passa fome. Nas demais, não. O que é completamente diferente de afirmar que Maioria dos assistidos pelo programa passa fome, diz pesquisa do Ibase.

É por isso que os jornalões acabam sendo vendidos, engolidos por seus sobreviventes, perdendo a cada diz mais leitores, enquanto cresce o número de pessoas que procuram informação alternativa na blogosfera, em blogs sobre política, redes sociais, listas e grupos de discussão.

Fonte: Blog do Mello


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